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OCérebro Adolescente

O cérebro é um conjunto de células que se comunicam entre si usando elementos químicos denominados neurotransmissores. Durante a adolescência há um aumento na atividade dos circuitos neurais utilizando a dopamina, um neurotransmissor importante na criação do impulso por gratificação. Começando nos primeiros anos e atingindo o máximo na metade da adolescência, essa liberação aumentada de dopamina faz com que os adolescentes gravitem em torno de experiências estimulantes e sensações revigorantes. Pesquisas chegam a sugerir que no nível basal de dopamina é menor, mas sua liberação em resposta à experiência é maior, o que explica por que adolescentes podem relatar uma sensação de “tédio” a menos que estejam ocupados em atividades estimulantes e novas.

Essa liberação aumentada de dopamina natural pode dar aos adolescentes uma sensação poderosa de estarem vivos quando se lançam em uma aventura. Também pode levá-los a se concentrar unicamente nas gratificações positivas, que tem certeza que os esperam, enquanto deixam de perceber ou de valorizar os riscos potenciais e os contras.

O impulso aumentado do cérebro por gratificação na adolescência manifesta-se nas vidas adolescentes de três maneiras diferentes.

Uma é simplesmente a impulsividade elevada, onde os atos ocorrem sem uma reflexão cuidadosa. Em outras palavras, o impulso inspira ação sem nenhuma pausa. Fazer uma pausa nos permite pensar sobre as outras opções além do impulso imediato alimentado pela dopamina que esmaga nossas mentes. Dizer àquele impulso para se acalmar exige tempo e energia, então é mais fácil simplesmente não fazê-lo. Dito isto, com o impulso por gratificação mais forte e mais premente do que nunca quando somos adolescentes, arranjar o tempo necessário para o processamento – para a reflexão e a autoconscientização – torna-se muito importante. Se qualquer noção se transforma imediatamente em uma ação sem reflexão, estamos vivendo as nossas vidas pisando no acelerador e sem freios. Isso pode ser muito estressante para os adolescentes e para os adultos que cuidam deles.

A boa notícia é que tais impulsos podem ser interrompidos se certas fibras na camada mais externas do cérebro trabalharem para criar um espaço mental entre o impulso e a ação. É durante a época da adolescência que essas fibras reguladoras começam a crescer para neutralizar o acelerado “vai” do sistema de gratificação de dopamina. O resultado é uma diminuição na impulsividade. Isso às vezes é chamado de “controle cognitivo” e é fonte importante de redução de perigo e riscos conforme os adolescentes se desenvolvem. Há maneiras de aumentar o crescimento dessas fibras reguladoras que criam uma pausa e elas podem ser desenvolvidas em qualquer idade, e elas são chamadas de Mindfulness.

Uma segunda forma pela qual a liberação aumentada de dopamina nos afeta durante a adolescência é a elevação documentada em nossa suscetibilidade para o vício. Todos os comportamentos e substancias viciantes envolvem a liberação de dopamina. Adolescentes não só estão mais propensos a experimentar novas aventuras como também estão inclinados a responder com robusta liberação de dopamina que, para alguns, pode se tornar parte de um ciclo viciante. Uma droga como o álcool, por exemplo, pode levar à liberação de dopamina, e o jovem pode se sentir compelido a ingerir cerveja, vinho ou bebidas fortes. Quando o álcool evapora, a dopamina despenca.  Então o adolescente é levado a usar mais da substancia que reforçou os circuitos de dopamina. Estudos revelam que alimentos com alto índice glicêmico – como os industrializados ou carboidratos simples como batata ou pão, que levam um rápido aumento de açúcar no sangue – também podem conduzir a aumentos rápidos no nível de dopamina e atividade nos circuitos de gratificação do cérebro. Infelizmente, nos Estados Unidos acredita-se que tal vício por comida de alto teor calórico e baixo valor nutricional seja responsável pela perigosa epidemia de obesidade nos adolescentes, o que causou uma crise médica criada e reforçada por nossa sociedade ao oferecer esse tipo de alimento viciante. Como acontece com qualquer vício, continuamos com este comportamento apesar de conhecer seus impactos negativos sobre a saúde. Esse é o poder dos centros de recompensa de dopamina.

Um terceiro tipo de comportamento moldado pelos impulsos elevados de gratificação do cérebro adolescente é algo chamado de hiper-racionalidade. É como pensamos em termos concretos e literais. Examinamos apenas os fatos de uma situação e não enxergamos o todo: perdemos o cenário ou contexto nos quais esses fatos ocorrem. Com tal raciocínio literal, os adolescentes podem dar mais importância aos benefícios calculados de uma ação do que aos riscos em potencial daquela ação. Os estudos revelam que os adolescentes costumam estar bem cientes dos riscos, chegando às vezes a superestimas a chance de algo ruim acontecer; eles simplesmente dão  mais importância aos excitantes benefícios em potencial das suas ações.

O que ocorre com o raciocínio hiper-racional não é uma falta de pensamento ou reflexão, como acontece com a impulsividade, e não se trata meramente de vício em determinado comportamento ou em algo que ingerimos. Esse processo cognitivo vem de um cálculo do cérebro que dá maior peso ao resultado positivo e não muito peso aos possíveis resultados negativos. Por peso quero dizer que os centros de avaliação do cérebro subestimam o significado de um resultado negativo, enquanto que ao mesmo tempo amplificam o significado dado a um resultado positivo. As escalas que os adolescentes usam para pesar suas opções tendem em favor do resultado positivo. Os prós superam em muito os contras, e o risco simplesmente parece valer a pena.

Essa escala tendendo para o positivo pode ser ativada especialmente quando os adolescentes andam com outros adolescentes ou quando acreditam que seus amigos, de alguma forma, verão suas ações. O contexto social e emocional que experimentamos na adolescência prepara o palco para o modo como nossos cérebros vão processar a informação. Embora isso seja verdade para qualquer pessoa, não importa a idade, a influência de seus iguais é especialmente forte durante a adolescência.

Em outras palavras, normalmente o cérebro dos adolescentes se concentram nas imagens gratificantes da emoção, na essência da busca por sensações e rejeitam os potenciais aspectos negativos das situações. O significado emocional de suas ações são tecidos juntos com as suas capacidades de planejar e calculam, de forma hiper-racional, que sempre o caminho perigoso seja o propício a seguir. Às vezes, o comportamento dos adolescentes não é impulsivo - eles podem planejar algo por muito tempo de um modo hiper-racional.

Conforme passem os anos adolescentes, eles trocam o raciocínio literal da hiper-racionalidade para as considerações mais abrangentes denominadas “pensamento essencial”.  Com o pensamento essencial consideram o contexto maior de uma decisão e usam a intuição para alcançar valores positivos com os quais se preocupam, uma vez de apenas se concentrarem na gratificação imediata impulsionada pela dopamina.

Então, fica claro que o assunto não é tão simples como dizer que os adolescentes são simplesmente impulsivos. E também não é tão simples como dizer: “ah, hormônios enfurecidos”, como muitas vezes dizemos. Pesquisas apontam que os comportamentos de risco na adolescência têm menos a ver com desequilíbrios hormonais do que com alterações no sistema de gratificação de dopamina no cérebro combinadas com a arquitetura cortical que apóia a tomada de decisões hiper-racionais, e cria a perspectiva positiva que é dominante durante os anos da adolescência.

Quando o circuito de dopamina está com o nível bem alto, funciona como amplificador de alta potência. A liberação elevada de dopamina nos conduzem em direção à gratificação e satisfação.

A potência é aumentada fazendo com que a nossa atenção seja atraída para os prós, colocando-nos sob o risco de minimizar a importância dos contras durante estes anos.

A hiper-racionalidade pode ser ilustrada como o exemplo extremo da roleta-russa, um jogo em que uma bala é colocada em uma das seis câmaras de um revolver. Se vencer, você tem cinco chances em seis de ganhar 6 milhões de dólares. Isso significa que, no geral, se centenas de pessoas jogarem este jogo, a média que provavelmente obtemos, estatisticamente, vencendo cinco das seis vezes, é de cinco sextos de 6 milhões de dólares, ou 5 milhões de dólares. Vamos La! O problema, claro, é que, se você for o sexto, morre. E para esta sexta pessoa é 100 por cento certo de que a vida vai acabar. Você percebe o problema. É verdade que é “bem provável” que você ganhe milhões de dólares. Se os seus circuitos cerebrais se concentrarem nesse resultado positivo, nos prós, e minimizarem a chance menor do risco, os contras, você vai participar da atividade. “Por que não?” Sim, parece matemática primária. Mas não aceitar essa avaliação de probabilidade, a armadilha do “é mais provável acontecer a opção positiva, então vou correr o risco”, exige um pressentimento, uma intuição que é a base do pensamento essencial, que livra a pessoa dos cálculos hiper-racionais. Com o desenvolvimento e o crescimento do cérebro, o pressentimento cresce e percebemos que o jogo da roleta-russa não faz sentido.

Paradoxalmente, a intuição desempenha um papel muito importante na tomada de boas decisões. Isso acontece porque nossas intuições, ou pressentimentos e sensações profundas, tendem a se concentrar em valores positivos, como as vantagens em permanecer na escola, de dirigir no limite da velocidade ou de se manter em forma. Muitos adolescentes podem ser racionais demais e precisam incorporar a inserção não racional de seus pressentimentos e sensações profundas, sentimentos que os capacitam a se concentrar nos valores positivos opostos às gratificações míticas que, na realidade, geralmente estão fora do alcance. Aprender a viver a vida desse ponto de vista não se trata de reprimir os impulsos, como dirigir em alta velocidade ou come junk-food (comida-lixo rs), mas adotar metas positivas que intuitivamente signifiquem algo para nós. O comportamento dos adolescentes normalmente é motivado pela hiper-racionalidade. Eles, entanto, precisam se esforçar para serem mais conscientes do que os seus sentimentos profundos e sua intuição dizem sobre os potenciais danos de um comportamento imprudente.

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